Caranguejos Uca (crustáceos decápodes da infraordem
Brachyura, família
Ocypodidae, gênero
Uca)
Também chamados de “caranguejo violinista”, devido à sua pinça (quelípede) assimétrica e grande, quando realiza pequenos movimentos com sua pinça menor ao se alimentar realmente parece que está tocando um violino. Possui vários outros nomes populares regionais, como “caranguejo cavador”, “chama-maré”, “chora-maré”, “catanhão-tesoura”, “ciecié”, “maracauim”, “siri-patola”, “tesoura”, “vem-cá” e “xié”. A palavra
Uca vem do termo indígena da tribo Seminole (que vivia na região da Flórida) para designar estes pequenos caranguejos. Curiosamente o nome indígena para o caranguejo-do-mangue brasileiro (
Ucides cordatus) é “Uçá”, mas deve ser somente coincidência. Existem cerca de 94 espécies deste gênero no mundo, 6 na costa brasileira.
Tamanho: a maior espécie tem carapaça de até 6 cm, mas a vasta maioria é bem menor.
Identificação: Cefalotórax alto, de forma quadrada. Coloração bastante variável. Olhos compostos na extremidade de longos bastões, são retráteis se amoldando em fendas na borda anterior do cefalotórax. Dimorfismo sexual bem demarcado, uma das garras do macho é desproporcionalmente grande. Além disso, semelhantes aos demais caranguejos, o macho possui abdômen estreito, e a fêmea abdômen largo, onde fixa seus ovos.
Habitat e ciclo de vida: Vivem em ambientes semi-aquáticos, na zona transicional de marés de litorais marinhos ou manguezais. Ampla distribuição por todos os continentes, exceto regiões polares. Cavam tocas alongadas no solo, que chegam a 30 cm de profundidade, e que podem se interconectar. Durante a maré alta fecham sua entrada com um cimento feito de saliva e areia, que pode ter 10 cm de espessura, para evitar que a água entre. Na maré baixa saem das suas tocas para se alimentar. Como todos os demais crustáceos, realizam mudas (ecdises) durante o crescimento, abandonando a carapaça antiga (exuvia). Logo após a muda, seu exoesqueleto ainda não é totalmente rígido, sendo vulnerável a ataques. Nesta época costuma permanecer entocado. Possuem vida relativamente curta, não ultrapassando dois anos na natureza (podem viver até três anos em cativeiro). Após a cópula, por duas semanas de gestação a fêmea carrega seus ovos na região abdominal, no momento do nascimento libera-os na água do mar, durante a maré alta. Larvas planctônicas passam por vários estágios em mar aberto, por um período de duas semanas. Adultos se dirigem ao litoral, e passam o restante da sua vida na zona de maré.
Alimentação e respiração: Se alimentam de detritos, microorganismos e algas, coletam porções de areia e sedimentos com sua pinça menor, levando-os à boca, de onde o alimento é separado com suas peças bucais. O sedimento já processado é eliminado pela boca formando uma pequena esfera, e devolvido ao solo. Algumas espécies usam estas bolinhas para demarcar seus territórios. Respiram ar, usando suas brânquias internas.
Perigo para humanos ou peixes: Inofensivo para humanos, exceto se deliberadamente seu dedo for colocado na sua pinça maior, como já fez este que vos fala aos 10 anos...

Não ataca peixes ou camarões. Por outro lado, é predado por peixes maiores.
Curiosidades:
- Como os demais crustáceos, possuem capacidade de regenerar membros perdidos. Um fato curioso, na maioria das espécies, se perderem a pinça maior, a menor cresce progressivamente e substitui a contralateral. No local onde havia a pinça maior, nasce uma menor.
- São animais sociais e territoriais, realizam disputas entre os machos por território e fêmeas. Para tal fazem uma dança com sua pinça maior, agitando-a ao alto, e golpeando o solo.
- Em algumas espécies, a garra maior pode representar 75% da massa total do animal.
Manutenção em aquários: Por serem animais extremamente robustos, geralmente são vendidos como animais aquáticos e de água doce. Se mantidos em aquários nestas condições têm expectativa de vida bastante reduzida, não sobrevivendo por um tempo maior do que alguns meses. A forma correta de criá-los é em aquaterrários dedicados, com parte do ambiente emerso, água salobra e substrato arenoso.
- Sugere-se um volume de cerca de 10 litros por animal, mas o mais importante do que o volume é a área de substrato, cerca de 800 cm2 por animal. São sociais e gregários, sugere-se um mínimo de 2 casais, embora com mais de um macho em ambientes pequenos possa ocorrer brigas, mas geralmente sem grandes conseqüências, são mais exibições do que combates reais.
- Apesar de existirem espécies marinhas, as comercialmente disponíveis no Brasil são coletadas em manguezais. Desta forma, necessitam de água salobra, idealmente numa densidade de cerca de 1.005. Nunca se deve usar sal de cozinha, mas sim adicionar água do mar à água doce. Pode ser aquela água que seria descartada de TPAs de aquários marinhos. Para atingir tal densidade, deve-se diluir 1 parte de água do mar para 4 partes de água doce.
- Os demais parâmetros não são críticos, mas se possível é desejável uma água alcalina e dura. Temperatura de cerca de 24~29 graus.
- Não são exigentes quanto à alimentação, podem ser alimentados com rações industrializadas para peixes ornamentais. Alguns criadores sugerem suplementar com alimentos ricos em cálcio, como cascas de ovos triturados ou osso de siba.
- O substrato ideal é arenoso, ou barrento, este último dificulta bastante a manutenção do tanque. Desta forma, sugere-se areia de praia fina, limpa e lavada, para que possam se enterrar e criar suas tocas. Mas podem viver em outros substratos de maior granulometria. Precisam de uma parte seca, por respirarem ar. Se mantidos em aquários, irão escalar plantas e filtros até a superfície, para poder respirar. Pedras e outros objetos podem ser interessantes, para ajudar a demarcar territórios. Mas deve-se tomar cuidado para que estes objetos não possam ser escalados, permitindo a fuga dos animais do aquário.
- A reprodução doméstica em cativeiro não é possível, por apresentar diversas etapas larvares em alto mar.
Uca sp. macho, belíssima foto de
Machini (
Era de Aquários).

Outras belas fotos de
Uca burgersi ("Saltpan Fiddler Crab", algo como "salinas", devido à padronagem com manchas irregulares claras lembrando sal evaporado), cortesia de
sergious(
FórumAquário). Macho:

Fêmea:

Na primeira imagem, a exuvia (exoesqueleto antigo abandonado) da ecdise.
Uca burgersi fêmea, carapaça com cerca de 1 cm. Coletado em Caraguatatuba, SP, num mangue próximo do mar.

Um macho que havia perdido a quela maior.
Uca sp. macho, carapaça com cerca de 2,5 cm. Coletado em Caraguatatuba, SP, habitava um terreno marginal bastante lodoso de um riacho que se comunicava com o mar, mas relativamente distante deste (cerca de 20 metros).
Uca thayeri, macho, foto gentilmente cedida pelo biólogo
Heideger Nascimento.
Uca maracoani, macho, foto gentilmente cedida pela bióloga Mariângela Di Benedetto, extraída da sua
tese de mestrado. Fotografado no Baixio Mirim, Baía de Guaratuba (PR). Nota o formato bem característico da sua quela.
