O tetra Cardinal, cientificamente chamado Paracheirodon axelrodi já se tornou um dos peixes mais difundidos do aquarismo mundial, e sua demanda comercial cresceu nas últimas décadas, tanto quanto a dos neóns. Em tempos de ecologia e de crise econômica, já passou da hora de se pensar mais seriamente na diminuição da pesca predatória feita pelos chamados “piabeiros” ao longo do Rio Negro, bem como em desenvolver formas de procriação artificial em larga escala dessa espécie. Essas providências teriam dois efeitos positivos: proteção desses peixes e de seu meio ambiente, e o aumento do valor dos juvenis, pois haveria uma elevação do valor agregado de produção. Os piabeiros, por sua vez, se tornariam pequenos criadores de peixes ornamentais, vendendo sua produção a cooperativas, etc. Mas escrevo este artigo para discutir sobre a reprodução em cativeiro dos tetras cardinais, em geral raríssima de se ver em aquários caseiros. Após minhas tentativas infrutíferas de reproduzir essa espécie, e das muitas leituras que fiz sobre o tema, posso lançar aqui algumas informações úteis para quem quiser tentar também. O princípio reprodutivo é o mesmo: controle e imitação do ambiente natural onde os cardinais reproduzem normalmente. Assim, o ideal é montar um aquário “amazônico” para os tetras cardinais. O aquarista deve, em primeiro plano, atentar para a vida aquática natural dos igarapés e rios da Amazônia, acessível hoje em dia até em vídeos na Web. O mais notório aqui é a exuberância do ambiente onde vivem os cardinais, sobretudo nas regiões da Bacia dos rios Negro e Orinoco (Venezuela). A floresta que alaga é realmente um habitat de grande diversidade biológica, com águas de pouca correnteza, escurecidas por muita matéria orgânica, com folhas, galhos e raízes cobertos de lodo, troncos de plantas vivas e mortas, farta vegetação aquática e sombreamento devido à densidade da floresta, o que torna um meio altamente propício para a procriação de várias espécies. De todas as fontes que estudei sobre a reprodução de cardinais, a mais completa e séria foi o trabalho de Hélio Daniel dos Anjos e Chris Rocha dos Anjos(2006), estudantes de pós-graduação em Biologia de Água doce e Pesca Interior no INPA de Manaus. Quem quiser, é só procurar o texto completo na Web. Nele, os autores relataram sua experiência feita para reproduzir os cardinais, na qual obtiveram algum sucesso. Vou resumir aqui os fatos: um grupo grande de tetras cardinais oriundos da região de Barcelos (AM) foi condicionado em um tanque de 1000L durante seis meses. Depois, retirou-se dali 20 casais selecionados, e colocados em tanques de 27L, com iluminação natural (dia/noite), alimentados duas vezes ao dia com camarões secos e larvas de mosquito vivas. Plantas: musgo de java e salvínia. Substrato: folhas de açaí (não disse se secas ou verdes). Temperatura: cerca de 26oC; Ph: cerca de 5,5. No início, os tanques estavam apenas com 10 cm de coluna d´água. Nos 22 dias seguintes com simulação de chuva, a coluna chegou a 25 cm, ocorrendo desova e fecundação em 09 dos 20 tanques (45%), no período. Os pais eram retirados em seguida à desova/fecundação. Em cada tanque, foram deixados 300 a 500 ovos, eclodindo metade disso (eclodem cerca de um dia depois da desova). Bem, pode-se dizer que essa experiência foi importante para conhecermos a biologia reprodutiva dos cardinais, embora demonstre o quanto a sua reprodução é sensível às condições, e o quanto seria custosa se efetuada em larga escala. Imagine produzir-se 30 milhões de filhotes em cativeiro, que é a demanda de exportação nacional, por ano? Hoje em dia, um piabeiro ganha R$:10,00 por 1000 peixes pescados....preço de um único acará disco retirado dos mesmos igarapés.
Por fim interessa dizer que os ovos dos cardinais não são adesivos, e são largados no substrato ou entre tufos de plantas. Os pais não cuidarão deles, caso não os comam. Os ovos são tão sensíveis que há grande a perda de alevinos. Sabe-se que tanto os ovos quanto alevinos desses tetras são fotosenssíveis, e podem morrer se expostos ao sol claro. Por isso, os tanques devem ser sombreados, e a claridade limitada, aumentada no decorrer dos dias. Observe a escuridão de um igarapé no Rio Negro, para entender isso. O casal cardinal realiza movimentos bruscos de perseguição e corrida, durante o acasalamento. Alimento vivo, ph ácido, água escura, chuva com aumento do nível d´água são elementos cruciais para o sucesso da reprodução do Paracheirodon axelrodi. As plantas devem ser de folhas finas, como o musgo de java (vesicularia dubyana). Os filhotes são transparentes, e estarão nadando livremente após 05 dias de nascidos. Não precisa dizer que devem estar isolados de outras espécies, pois serão presas fáceis. Espero ter ajudado a todos deste Fórum. Vou seguir tudo o que afirmei aqui, na próxima vez que tentar reproduzir cardinais.
Biótopo em Igarapé amazônico:
Uploaded with ImageShack.us
Cardinais em aquário:
http://img405.imageshack.us/i/tetras.jpg/][/URL]
Reprodução em cativeiro do Tetra Cardinal
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- Katsuzo Koike
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