A turma da faxina. Com todo o respeito.

Discussões gerais sobre os peixes e invertebrados de água doce, abordando assuntos específicos como comportamentos, morfologia, reprodução, alimentação etc.

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Xica
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A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Xica » 07 Apr 2014, 15:42

Planejamos um aquário. Escolhemos seu tamanho, equipamentos, hardscape bonitinho, fauna a ser mantida, flora. Encaramos pacientemente (ou não) o período de ciclagem, inserimos os habitantes e, lá pelas tantas, surgem as algas e os problemas relacionados a existência de detritos. Poxa, mas meu filtro é dimensionado, a circulação está boa, não há superpopulação, faço o que? Ah, põe uma equipe de limpeza que já resolve. E é desta maneira e por este motivo que colocamos em nosso aquário animais que nunca estiveram previstos na montagem, inclusive muitas vezes oferecendo um ambiente nada adequado a eles.

A turma da faxina mais conhecida é interessantemente a da letra C: cascudos (incluso otos), corydoras, camarões, caramujos e comedores de algas, habitualmente escolhidos em função de seu regime alimentar e da forma e locais em que se alimentam. Sobre eles colocamos a responsabilidade de manter o aquário limpo de algas, sem restos de ração ou matéria vegetal morta. A ideia é esta, só que não é bem assim que a coisa funciona.

As informações a seguir são genéricas e superficiais, portanto, pesquise especificamente sobre a espécie que deseja manter. No mínimo evita o susto de descobrir de adquiriu um peixe que, quando adulto, pode ficar quase do mesmo comprimento de seu aquário.

Cascudos.
Dos pequenos Limpa Vidro (Otocinclus sp., cerca de 3 cm) aos Abacaxi (Pterygoplichthys pardalis, cerca de 35 cm), passando pelo lindíssimo Zebra (Hypancistrus zebra L046, cerca de 10 cm), todos são peixes que pertencem à ordem Siluriformes, e somente a família dos Loricariidae, por exemplo, possui seis subfamílias, mais de setenta gêneros e cerca de seiscentas e noventa espécies reconhecidas.

São conhecidos popularmente como cascudos ou acaris e têm como características principais corpo revestido por fileiras de placas ósseas, primeiro raio da nadadeira dorsal duro, boca inferior e lábios em forma de ventosa. Possuem respiração aérea acessória. Conforme a espécie podem ser basicamente herbívoros, basicamente carnívoros, onívoros, necessitando ou não consumir celulose (raspadores de madeira). Em sua maioria são animais pacíficos com algumas poucas espécies agressivas e territorialistas.

Na média, o tamanho que varia entre 10 cm e 40 cm e distribuem-se pela América do Sul e Central. Vivem em ambiente lótico (águas correntes ricas em oxigênio) onde se alimentam de microrganismos existentes no limo, algas, pequenos vermes e crustáceos.

Aliás, cascudos estão sempre se alimentando. São bons ajudantes no combate a algumas algas, mas esta não deve ser a única opção alimentar. Comerão sobras de ração de outros peixes, mas continua não sendo nutricionalmente adequado. Pesquise sobre a espécie que mantém, verifique sua necessidade alimentar, ofereça rações de qualidade, legumes, vegetais. Talvez o bichinho conclua que a comida que você proporciona seja melhor do que raspar algas e desista do emprego de faxineiro, mas pelo menos você terá um animal bonito e saudável em seu aquário.
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Um belíssimo Panaque Real (Foto: Rafael Senfft 2014)

Corydoras.
Também da ordem Siluriformes, pertencem a família Callichthyidae sendo um de seus oito gêneros e possuindo mais de cento e sessenta espécies descritas.
Conhecidos vulgarmente como limpa-fundo são caracterizados pela presença de placas ósseas em ambos os lados do corpo, nadadeira dorsal e nadadeiras peitorais guarnecidas com espinhos e dois pares de barbilhões curtos no maxilar. Possuem respiração aérea acessória facultativa.
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Coridora Bronze crescida (Foto: K.Koike 2013)

Encontrados em diferentes ambientes (rios, pequenos riachos, áreas pantanosas) são onívoros com tendência ao carnivorismo e em seu ambiente natural alimentam-se de insetos, vermes, larvas, peixes mortos e eventualmente vegetais. Corydoras não comem algas.
O tamanho médio varia entre 2 cm a 10 cm. São bentônicos (vivem junto ao substrato), gregários (vivem em grupo), pacíficos, apreciam a vegetação marginal densa sob a qual se abrigam e são mais ativos durante o dia e o crepúsculo. Distribuem-se pela América do Sul e Central.

No aquário, vale a recomendação anterior: pesquise sobre a espécie que deseja manter. Certifique-se que seu aquário tem condições de recebê-los e se não há potenciais predadores. Da mesma forma, atenção com alimentação: não permita que vivam apenas com as sobras dos demais habitantes. Ofereça ração própria para eles e inclua alimentos de origem animal. Cardápio diversificado é mais saudável.

Caramujos e camarões.
Os caramujos mais comuns encontrados em aquários (várias vezes vindos como clandestinos em plantas recém -adquiridas) são os physas, lymnaeas, melanóides e planorbídeos. São onívoros, alimentam-se de algas, restos de ração, detritos vegetais e animais mortos. Com alimentação abundante e ausência de predadores a reprodução é rápida e frequente.

Physas, lymnaeas e planorbídeos são pulmonados e com relação a reprodução são hermafroditas capazes de autofecundação ou fecundação cruzada. Os ovos são depositados em uma massa gelatinosa, dentro d’água, em superfícies como o vidro, tronco, rocha e folhas.
Melanóides possuem respiração branquial e reproduzem-se por partenogênese, gerando cópias de si mesmo sem necessidade de fecundação. São noctívagos, permanecendo enterrados no substrato durante o dia. Não põe ovos.
Ampulárias e neritinas são dioicos (sexos separados), com fecundação interna, sendo que a ampulária deposita seus ovos fora d’água.

Finalmente, nossos pequenos camarões e seus hábitos alimentares. Detritívoros, algívoros e catadores alimentam-se de animais mortos, plantas em decomposição, algas, sobras de ração, biofilme. Matéria vegetal contribui para reforçar suas cores e proteínas para seu crescimento e reprodução. Bom lembrar que, em longo prazo, apenas algas não são suficientes para sustenta-los se forma satisfatória.

A maior parte deles é sensível a água de baixa qualidade e altos níveis de nitrato. Bastante vulneráveis após a ecdise, necessitam de locais seguros para abrigarem-se.
O maior problema dos camarões em um aquário comunitário chama-se peixes. Por estar na base da cadeia alimentar e considerando seu pequeno tamanho (camarões recém-nascidos têm cerca de um milímetro), a predação é inevitável. Mesmo havendo vegetação densa, troncos e pedras que proporcionem abrigo, é comum que vivam escondidos, sob estresse, inclusive tanto o número de fêmeas ovadas quanto a quantidade de ovos diminui. Assim, seja por predação ou menor número de descendentes, a tendência é que desapareçam do aquário.

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Comedores de Algas.
Esses peixes são outra ótima opção para quem quer se defender do explosão de algas no aquário, e essa limpeza coloca esses Ciprinídeos no rol da “Turma da Faxina”. Mas é preciso fornecer as condições corretas no aquário para a sua boa atuação. Ao mesmo tempo, como já foi dito acima, é fundamental estudar as espécies que se pretende criar, ou as que o comércio de peixes oferece, para não se ter surpresas desagradáveis. A solução de um problema pode gerar outros, para dor de cabeça de muitos criadores desavisados.
Antes de apresentar as prıncipais espécies de Comedores de Algas, vale dizer que esses peixes são bastante exigentes quanto à qualidade de água, não comem qualquer tipo de algas, e detestam o acúmulo de matéria orgânica no aquário. No meio natural, eles vivem em águas de correnteza baixa ou média, sempre no meio de pedras, cascalho fino, troncos e pedras. Além de comer algas, eles adoram pequenos vermes, crustáceos, plantas, plânctons e até alevinos de outros peixes. Em cativeiro, se alimentados com ração em excesso, não vão se interessar pelas algas.
Eles também não serão a solução completa para a sujeira do aquário, muito pelo contrário, pois até ajudam a sujar a água, como bons ciprinídeos que são. Ainda, é preciso saber que não servem para aquários pequenos, ou sem objetos, pedras, plantas, substratos, etc, pois crescem entre 14cm a 28 cm, como é o caso do Comedor de Alga Chinês (Gyrinocheilus aymonieri), comumente vendido nas lojas de peixes ornamentais do Brasil (nas versões comum ou albina, a baixo preço). Apesar do nome, eles nem são da China, mas dos rios do Sudoeste asiático, da Tailândia, Malásia, Vietnã, etc. Tanques acima de 200L, com boa filtragem, trocas de água e com boa circulação são os mais indicados para esses Comedores de Alga, que podem viver sozinhos ou em grupo da mesma espécie. O Comedor de Alga Chinês vai ficando agressivo com outros peixes na medida que crescem, e vão se desinteressando das algas, se tornando um problema para o criador, que não sabe o que fazer com ele. Há casos relatados de predação de peixes menores e perturbação de maiores, sendo o Comedor de Alga Chinês adulto o vilão nos aquários quando se insere novos peixes pequenos.
Uma espécie mais eficaz e agradável para a limpeza de algas do aquário é o Comedor de Algas Siamês ( Crossocheilus Siamensis), que além da beleza, não cresce demais, apenas 15cm no máximo. O bom desse peixe é que eles comem algas verdes, filamentosas e até Petecas, no início da infestação. Não adiantará colocar esses peixes no aquário quando houver infestação avançada de Petecas. São dóceis, mas podem se tornar territoriais com companheiros da mesma espécie.
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Um comedor de Alga Siamês juvenil (Foto: Cortesia do AqOL)

Para saber se seu comedor de alga é o verdadeiro Siamês, basta verificar a faixa negra do corpo: ela deve ir do bico até o centro da cauda. Se a faixa acabar na base da cauda, e vier junto com uma linha mais fina de cor amarelo ouro, o peixe deve ser outro: ou uma Raposa Voadora (Epalzeorinchus sp.) ou um Garra (Garra Cambodgiensis), que atingem cerca de 15cm também, geralmente chamados de "Falso Comedor de Alga Siamês". Eles são vendidos nas lojas brasileiras, embora não sejam comuns em todas as regiões. O nome “Falso” não quer dizer que sejam peixes ruins ou feios, muito pelo contrário. Eles também podem ajudar muito no controle de algas, mas seu comportamento será próximo dos Lábeos. Como estes peixes, eles não vão reproduzir no aquário, o que se consegue apenas com uso de hormônios.

Poecilídeos e Jordanelas.
Não poderíamos deixar de citar, como exemplos de espécies limpadoras de algas e de sobras de comida, os peixes da família dos Poecilídeos, como os Lebistes, Espadas, Platis, Molinésias, além de um parente próximo deles, da América do Norte, as Jordanelas, um ciprinídeo pouco conhecido no Brasil. Esses peixes, além de bonitos e dóceis, tanto comem as algas sobre vidros e objetos, quanto limpam o substrato de restos de comida, embora eles defequem muito e não comam sobras de ração estragada nem plantas mortas. Vale lembras que esses peixes gostam de águas levemente salobras, o que pode ser ruim para outras espécies companheiras de aquário, como cascudos, tetras e bagres, mesmo que possam viver bem em águas totalmente doces. Não crescem muito, no máximo 10 a 12cm, e se reproduzem facilmente nos tanques caseiros, o que pode se transformar em dor de cabeça para o criador que não deseja superlotar o aquário.

Molinésia Balão, uma bela escolha para limpeza de algas verdes:
Image[/URL] (Foto: K.Koike 2014)

Em síntese, sobre estes peixes e invertebrados habitualmente considerados como equipe da limpeza é bom lembrarmos que:
- não são coprófagos, ou seja: nenhum deles alimenta-se de excrementos;
- não nos desobrigam de manutenções periódicas, como TPAs e sifonagens;
- não nos eximem de pesquisar sobre as espécies escolhidas verificando suas necessidades (parâmetros físico-químicos da água, esconderijos, espaço, comportamento, compatibilidade com os companheiros do aquário, gregariedade) e se nosso aquário pode supri-las;
- têm o direito de receber alimentação adequada a eles (apenas aquela encontrada no aquário pode ser insuficiente tanto em quantidade como em qualidade);
- devem ser compatíveis com os habitantes já existentes, afinal parte da turma da faxina não precisa correr o risco de virar lanchinho da tarde, nem de se tornar os vilões do tanque;
- são ótimos integrantes para a fauna de qualquer aquário de água doce, por sua alegria e beleza, e não somente por causa de sua presumida função;

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Marne Campos » 07 Apr 2014, 15:56

Eu sabia que aquela perguntinha "como está a produção de artigos novos para o site?" feita no carro indo para a fábrica da Poytara não seria à toa!

Bom, muito bom! Valeu Xica! :D
Marne Campos

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Bruno Caron » 08 Apr 2014, 08:04

Muito bom Xica!
Texto objetivo, claro e muito prático.

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Rodrigo Paula » 08 Apr 2014, 22:48

Amiga, sempre com textos de fácil entendimento e indispensável para todos . belo artigo !!!!!
Parabéns !!

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Xica » 09 Apr 2014, 13:12

Valeu, meninos. :)

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Ederli » 21 Apr 2014, 16:23

Adorei o texto Xica parabéns!!! :D :D

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Xica » 21 Apr 2014, 17:33

Obrigada! :)

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Katsuzo Koike » 22 Apr 2014, 20:22

Mais um excelente texto da Xica! Voto para virar artigo!
Apenas senti falta do pessoal "comedores de algas", que tb são bons de faxina.
Um peixe que ultimamente me surpreendeu como algueiro foram os Molinésias Balão....eles limpam mesmo todos objetos, pedras e vidros das algas verdes, no aquário.
Mas valeu pelo texto, minha amiga! Abçs!

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Xica » 23 Apr 2014, 13:06

Oi, Katsuzo!
Deixei estes peixes de fora propositadamente.
Atenção na cantada: não gostaria de falar sobre eles e completar o texto? Quem sabe tenhamos nosso primeiro futuro artigo em dupla.
Aceita?
Abraço!

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Re: A turma da faxina. Com todo o respeito.

Postby Katsuzo Koike » 23 Apr 2014, 22:06

Será um grande prazer, Xica! Assim que tiver algo pronto, aviso!

Valeu pelo convite! abçs


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