Existem certas montagens em que o aquarista faz uso de folhas secas espalhadas pelo fundo do aquário, seja por funcionalidade, naturalidade ou simplesmente estética. Aqui teremos um passo-a-passo de como realizar o tratamento adequado e deixá-las prontas para serem usadas.
Primeiramente devemos ter em mente em que tipo de aquários elas são adequadas: quase todos os que possuírem água ácida, com pH igual ou menor que 6,9. Elas dão um ar natural e muito semelhante ao que encontramos na natureza. Em determinados temáticos ou biótopos, seu uso é essencial para imitarmos ao máximo a região pré-determinada.
Observe esse temático, note o fundo coberto com folhas secas imitando o leito de um Igarapé.
Porém, devemos estar cientes que as folhas estão longe de serem meras peças decorativas, elas também servem de refúgio para animais mais tímidos, como ciclídeos anões sul americanos (praticamente todos os peixes do gênero Apistogramma, Mikrogeophagus e Dicrossus por exemplo) apreciam muito montagens que utilizam folhas secas em sua composição. Servem para ajudar a demarcar território, como refúgio no caso de disputas, como local de desova (algumas espécies inclusive tem preferência por desovar em folhas secas, como os Dicrossus).
Veja um Dicrossus filamentosus entre as folhas secas.
As folhas secas, assim como troncos, raízes e galhos liberam taninos (polifenóis de origem vegetal), substâncias que dão a água uma coloração amarelada, que dependendo da intensidade pode variar de um simples amarelo claro até um forte marrom quase vermelho. Nem todo o aquário que possui folhas secas tem que possuir necessariamente a água dessa cor. Para evitar isso devemos seguir o tratamento posterior e utilizar carvão ativado e outras mídias de filtragem química, como Purigem. Elas absorvem os taninos devolvendo a água seu aspecto inicial.
Esse ácidos orgânicos (taninos) não só dão coloração a água como também a acidificam. É possível fazer uma folha deixar de tingir a água, mas é impossível evitar que ela a acidifique.
Veja a água de um aquário tingida de taninos liberados pelas folhas, comparando-a com um painel branco.
Deve-se ter o cuidado de selecionar bem as folhas que usará, não é possível com todas as árvores. Evite sempre folhas de árvores reconhecidamente venenosas e/ ou que soltem um líquido viscoso e branco, como látex. Sempre escolher por árvores frutíferas preferencialmente, são as mais confiáveis quando não se tem certeza da toxidade de uma planta.
Escolher as de folhas mais firmes, como folhas de Goiabeira (gênero Psidium) - é uma das mais duráveis dentro d'água, Pitangueira (muitos gêneros, principalmente Eugenia e Stenocalyx), Jabuticabeira (gênero Myrciaria), Limoeiro (Citrus x limon), Laranjeira (Citrus x sinensis), Bergamoteira (Citrus reticulata) - folhas de frutas cítricas costumam acidificar bem a água, Ingazeiro (gênero Inga), Guaranazeiro (Paullinia cupana) e até outras que não são necessariamente frutíferas como por exemplo folhas de Canela (Cinsamomum zeylanicum).
Sempre evitar folhas macias como de Aceroleira, Pessegueiro e Caquizeiro por exemplo, pois se desintegram muito rapidamente dentro do aquário.
Mesmo as mais rígidas entram em processo de decomposição, começando a se desfazer no aquário. Quando o aquarista perceber isso, deve estar ciente que é hora de trocá-las por outras novas. Mas não existe motivo para preocupações, essa troca sempre é demorada, de no mínimo 1 mês.
Já sabendo quais escolher, basta saber como: com cuidado e em locais onde não exista ou exista em baixa intensidade tráfego de veículos, evite locais como beiras de estrada, vá coletando folha por folha, que já deve estar seca e inteira, com bom aspecto, Descarte as que ainda estiverem meio verdes. Escolha superficialmente dando preferencia para as que estão sempre acima, geralmente ainda não entraram em processo de decomposição.
Como exemplo usaremos folhas de Goiabeira, que podem demorar até 2 meses para começar a se decompor.
Lave-as com água comum da torneira mesmo, não precisa usar anti-cloro. Essa lavagem é importante pra retirar sujeiras e outros resíduos que possam estar grudados nas folhas.
Afundá-las em água da torneira e lavar uma por uma.
É importante passar os dedos pra retirar poeira, terra, bichinhos etc. Principalmente em folhas que se curvam quando secas, essas curvas se unem e formam túneis, onde se encondem insetos, principalmente aranhas.
Fervendo as folhas em uma panela velha, para esterilizá-las.
A xícara totalmente transparente é a de antes da fervura; a levemente amarelada é de uns 10 minutos de fervura e a bem cor-de-chá é de 30 minutos de fervura.
Aqui as folhas já prontas para serem usadas em novas montagens.