Uma das dúvidas mais frequentes quando se fala em aquarismo é até que ponto se pode povoar um aquário? Essa dúvida não é exclusiva dos iniciantes, mas sim de todos que cultivam esse hobby. Então como determinar um valor exato, quando se trata de um assunto que pode definir o sucesso ou o fracasso de uma montagem? Realmente não é fácil e vários pontos devem ser considerados.

Muitos aquários são montados perfeitamente, com todos os equipamentos necessários e adequados, todos os testes, condicionadores, substrato, decoração etc, mas logo após inseridos os peixes, o caos acontece: mortes prematuras, peixes com o corpo machucado, nadadeiras corroídas, peixes escondidos, peixes com cor apática, súbito aumento dos compostos nitrogenados, queda brusca de pH. Porém, nem sempre os sintomas são tão visíveis, podendo agir de forma muito mais sutil: os peixes, simplesmente não atingem seu tamanho máximo, por exemplo. Tornam-se mais agressivos do que o normal e esperado.

Diversos aquaristas dizem que é uma decisão pessoal que cabe apenas ao próprio dono ter o bom senso de saber onde parar e quando. Porém, como definir o bom senso, principalmente pra quem está começando, portanto deslumbrado com as inúmeras espécies, cheias de cor e movimento? Por isso, que desenvolvi essa coluna, não para restringir e criar regras para a quantidade de peixes, mas para dar um ponto de partida que mostre uma maneira fácil e segura de iniciar a escolha dos habitantes do aquário.

 

 

Vamos desmistificar algumas coisas:

 

"Peixes crescem de acordo com o tamanho do aquário."

Geralmente o que vemos são peixes atrofiados, seja por limitação dos movimentos seja por envenenamento lento e contínuo por nitrato.

 

"Basta seguir a regra de 1cm/litro."

Então se eu pegar um Oscar de 35cm posso colocá-lo em um aquário com volume de uns 35/40 litros? Não. O que deve ser levado em conta é a espécie que se pretende criar (tamanho, comportamento, capacidade de produzir dejetos, etc);

 

"Vou comprar um peixe mesmo assim, quando ele crescer demais eu comprarei outro aquário."

Quem dera isso realmente acontecesse. Sabemos que, pelo menos a maioria de nós não temos condições financeiras de ficar trocando de aquário a cada 6 meses... Além do fato de que qualquer mudança estressa tanto os peixes como o aquarista.

 

"Mas eu conheço um amigo que mantém peixes grandes em aquários pequenos e eles estão muito bem há um anos e poucos meses"

Outro ponto importante, é que as pessoas esquecem que a maioria dos peixes ornamentais vive muito, geralmente as espécies que tem a menor expectativa de vida vivem em média 2 ou 3 anos. Alguns vão de 8 à 12 anos, e existem outras que ultrapassam facilmente 20 anos. Então para um peixe que vive mais de 10 anos, o que significam 12 meses? Veja quantos anos a montagem deste seu amigo se mantém sem mortes e com peixes saudáveis e vigorosos.

 

Logo após refletirmos sobre os fatos acima, sempre devemos nos aprofundar ainda mais: então não é possível manter um grande número de peixes em um aquário considerado pequeno para suportar tal fauna? Não necessariamente. É possível montar e manter de 30, 40 ou 50 litros com mais de 10 ou 15 peixes, saudáveis e ativos. Claro que vai variar de espécie para espécie. Devemos levar em conta outros aspectos além dos simplesmente técnicos (restritos à medidas e volumes):

- Estabilidade do Sistema: poucos peixes, que não excedam o adequado recomendável garantem uma maior estabilidade do sistema como um todo (parâmetros mais duradouros e alterações mais fáceis de serem percebidas e se necessário, corrigidas à tempo). Assim a manutenção fica facilitada, evitando transtornos. Porém, não quer dizer que todo o aquário com peixes à mais vai ficar desestabilizado, e aí que entra o bom senso: Manter uns à mais pode ser perfeitamente possível, dependendo da espécie. Principalmente com os menores como Tetras, Poecilídeos, Dânios, Barbos e Rásboras que não ultrapassem os 5 cm.

- Maior espaço livre para nadar: os peixes dessa forma conseguem realizar “passeios” completos, exercitando ao máximo seus músculos e suas nadadeiras. Garante também um pleno desenvolvimento do peixe, que pode atingir e até superar o tamanho esperado. Mais uma vez devemos pensar e observar se os peixes estão conseguindo nadar livremente, sem impecílios. Caso perceba que já não é possível ao peixe nadar sem ter que desviar toda hora dos outros, hora de diminuir a população.

Quantidade de peixes: Cada caso é um caso.

- Tempo para descobrir novas espécies: quando se é iniciante (e quando não se é também), é muito fácil acharmos aquele peixe, o nosso preferido. Então logo o compramos em grande quantidade. Porém, passado algum tempo, surge na loja outra espécie que nos encanta, mas não poderemos comprar porque o aquário já está lotado daquele peixe que adquirimos primeiramente. E é por isso que ao comprarmos aos poucos os habitantes, damos tempo para que eventuais descobertas apareçam e possamos então adquirí-las, à nossa vontade. Porém, esse ponto está mais relacionado à ansiedade e à falta de pesquisa mesmo, melhor sempre procurar por informações sobre quais peixes gostamos mais.

Primeiramente, devemos levar em conta apenas o tamanho do peixe já adulto, mesmo que ainda seja alevino. Também devemos levar em conta um acréscimo de 20 à 30% de água extra, afinal o aquário geralmente recebe substrato, equipamentos e demais itens que ocupam espaço.

Em segundo, as características dos peixes. Kinguios, por exemplo, são muito sujões, poluem rapidamente a água. Então não devemos colocar muitos em um aquário, sempre através de uma regrinha que vem dando resultados bem positivos: de 100 à 150 litros de água para o primeiro Kinguio e de 40 à 60 litros à mais para cada um adicionado. Nesse caso o tamanho e a carga orgânica produzida por eles foram levados em conta.

Claro que como foi dito antes cada caso é um caso e é possível abrir exceções de acordo com situação. Cabe ao aquarista avaliar, baseado no que aprendeu sobre aquarismo responsável o que pode ser alterado.

Quanto maior é um aquário, maior a capacidade de abrigar um grande número de peixes. No caso do Óscar (Astronotus ocelattus), para cada peixe o cálculo exige 280 litros, logo para um grupo de 5 seriam necessários 1.400 litros certo? Não!!! É possível manter perfeitamente bem e com conforto 5 peixes desta espécie em aquários com mais de 700 litros aproximadamente, talvez um pouco menos.

As medidas do tanque também devem ser observadas, para espécies altas como Acarás Bandeira (Pterophyllum scalare) e Acarás Disco (Symphysodon aequifasciatus), mais vale um aquário alto do que um muito comprido. Para espécies muito ativas como Paulistinhas (Danio rerio) e Barbos, por exemplo, vale muito mais um aquário comprido e baixinho do que o contrário. Nestes casos separados nota-se que o volume é importante, mas as dimensões são mais ainda e devem ser levadas em consideração na hora da escolha das espécies.

Percebe-se como é importante dar uma base ao aquarista para que à partir desse ponto ele possa raciocinar e descobrir como popular corretamente um aquário. Aquarismo consciente e responsável deve ser sempre a prioridade, sobrepondo-se aos simples desejos e caprichos do praticante do Hobby. Não é correto superpopular um tanque só porque você queria levar um exemplar de cada espécie que viu na loja, pondo em risco o bem-estar físico do animal, estressando-o e muitas vezes ceifando sua vida muito antes do que seria o ideal.

Assim como também não é correto adotar a quantidade que usamos em aquários plantados, que parece ser uma tendência "chata". Como no aquário plantado o principal são as plantas, os peixes exercem função secundária, então sempre estarão em número muito baixo. Muitos aquaristas tomam esse conceito para aquários comuns. Um aquário comum, sem muitas plantas e com poucos peixes é realmente uma coisa muito, mas muito sem graça.

O dia em que eu for obrigado a manter no meu aquário de 70 litros apenas 8 ou 10 peixinhos minúsculos, abandono o aquarismo e vou procurar outro hobby.

Repito mais uma vez: o que escrevi não tem como função impor algo à ninguém, e sim servir como esteio para que seja possível chegar à um resultado satisfatório: um aquário bonito, com peixes na medida, sadios e que vivam muito, proporcionando inúmeras alegrias e descobertas ao aquarista.

Pensem bem antes de escolher a fauna que povoará por muitos anos seu aquário!

Sobre o autor:
Mateus Camboim
Autor: Mateus Camboim
Mateus Camboim de Oliveira, natural de Porto Alegre-RS, é estudante de ciências biológicas preparando-se para ser professor. Adora escrever sobre biologia, mas principalmente ler sobre o assunto. Começou no aquarismo em 1996, quando ganhou de seu pai um pequeno Plati Ouro, a partir de então, o fascínio por esses animais só aumentou, tendo montado diversos aquários desde então mas considerando que só se tornou um “aquarista de verdade” a partir de 2005, quando passou a montar um aquário seguindo tudo o que aprendeu. Sua área de maior interesse é a fauna do aquário, vendo o aquapaisagismo e a flora como parte integrante, porém não o principal.

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