Não há como saber com exatidão essa estatística, mas o primeiro impacto que a maioria dos aquaristas iniciantes sofre diz respeito à perda de peixes causada por água nova da torneira. É a velha história: na loja de aquários, diante da beleza de tantas espécies de peixes e plantas, as crianças, jovens e até adultos se entusiasmam e terminam comprando o que bem lhes apetece. Em seguida, vem o maior erro: a compra do aquário e dos materiais juntamente com alguns peixes em um saquinho.
Embora haja vendedores que orientam bem as pessoas inexperientes no aquarismo, muitos deles ainda confundem os clientes, não passam detalhes importantes, e até vendem substâncias anti-cloro junto com as outras coisas, a fim de minimizar os prejuízos, como se isso resolvesse tudo. Ora, a ansiedade do aquarista novato é tanta que ele não vê a hora de chegar em casa, arrumar o aquário, enchê-lo de água e colocar os peixes dentro.
Infelizmente, a água usada naquele aquário novo é a da torneira mesmo, ou do chuveiro, o que dá na mesma. Muitos não sabem, mas essa “água nova da torneira” é altamente venenosa para os pequenos peixes.
O perigo é que as águas tratadas das cidades recebem certa quantidade de cloro para matar as bactérias ruins e tratar a matéria orgânica da água (por exemplo, servindo de desinfetante para os coliformes fecais). Claro, existe um índice mínimo de cloro indicado pelo Governo para as águas serem chamadas de “tratadas”, mas para além disso, as quantidades variam muito. Segundo informa o site da SABESP, companhia de água de São Paulo: “O cloro é um agente bactericida. É adicionado durante o tratamento, com o objetivo de eliminar bactérias e outros micro-organismos que podem estar presentes na água. O produto entregue ao consumidor deve conter, de acordo com o Ministério da Saúde, uma concentração mínima de 0,2 mg/l (miligramas por litro) de cloro residual”. O valor máximo de cloro residual tolerado na água para consumo no Brasil é de 2,0 a 5,0 mg/L. Mas não é tão incomum que algumas cidades estejam consumindo águas com bem mais cloro que isso, sendo perceptível pelo odor, coloração turva azulada, irritação dos olhos e garganta, além da pele e mucosas. A substância clorada geralmente utilizada para a esterilização da água é o Hipoclorito de Sódio (NaClO), que é também o principal agente presente na Lixívia ou Água sanitária, para lavagem e branqueamento de roupas, por exemplo.
O problema é que cada cidade de nosso país tem uma diferença em quantidade de cloro residual nas suas águas. Isso depende da qualidade da água de seus reservatórios: quanto mais poluída ou suja a água for, mais cloro é adicionado. Em seu tratamento, a água ainda recebe cal e flúor, além de cloro. Por isso, nem sempre os anti-cloro colocados nos aquários recém-montados funcionam a contento, pelo menos na quantidade indicada na bula.
Muita gente não sabe que o cloro é injetado na água na forma de gás liquefeito, e portanto, capaz de evaporar para a atmosfera com o passar do tempo. Por isso, a água da torneira descansada por dois ou três dias terá praticamente eliminado o seu cloro.
Ás vezes pequenos detalhes na manutenção do aquário farão toda diferença: no momento da TPA, muitos utilizam água direto da torneira. Mesmo que seja utilizado algum condicionador nessa água, o cloro não será totalmente eliminado. Ainda assim, essas substâncias podem retirar maior parte do cloro, mas deixam a amônia, mortal para os peixes. Uma solução, caso use água direto da torneira, é não passar de 10% no volume da troca, para os efeitos serem minorados. Sob efeito de cloro, os peixes ficam apáticos, ofegantes, com nado irregular, às vezes na superfície da água, ou parados no fundo do aquário.
Realmente, o cloro na água tratada não só reage com outros materiais, quanto existe em outras formas, como as cloraminas, substâncias que se formam da reação da amônia e cloro, na água. A adição de amônia em água onde haja cloro livre gera as cloraminas (mono-, di- e tri-cloraminas, sendo esta última menos fatal aos seres vivos), perigosas para a biologia do aquário.
A título de curiosidade, poucos sites revelam que as cloraminas são mais estáveis que o cloro gasoso, permanecendo um bom tempo ativas na água. Por isso, é bom o aquarista avisado pesquisar a qualidade da água abastecida em sua região, a fim de não ter surpresas indesejáveis quando for condicionar a água para uso em aquários. Um meio eficaz de eliminar cloraminas é o uso de um filtro com carvão ativado (no caso de água para beber, usar um filtro de ozônio); segundo as fontes, as cloraminas não alteram o pH da água, produzem poucos compostos orgânicos e deixam odor e sabor da água menos agressivos que os do cloro puro (até seus efeitos sobre os seres humanos são mais leves, diferente do cloro livre - daí seu uso cada vez maior pelas companhias de tratamento e saneamento de água).
Bem, se o nosso aquarista vivesse próximo a um ribeirão ou fonte de águas límpidas, e enchesse o se aquário com essa água, 99% dos acidentes de mortandade de peixes não ocorreriam, pois a chance de adaptação em água natural e viva é bem maior, para os seres aquáticos. Mas sabemos que quase ninguém mais mora perto de riachos e fontes limpos. E até nossos rios, lagoas e barragens estão poluídos e infectados.
Os conselhos que posso deixar aqui, para os amigos aquaristas iniciantes são:
a) Não coloque os peixes em água de torneira recém colhida, se não quiser perdê-los;
b) Não confie sempre em substâncias desclorificantes, por respeito à vida dos peixes;
c) Deixe o seu aquário ciclando por uns 10 a 20 dias, cheio, montado e sem peixes, e com tudo funcionando, do filtro, bomba à iluminação. As plantas já podem estar no aquário nesse período, pois ajudam a biologia do sistema equilibrar. Paciência aqui é o segredo.
d) Sempre tenha um depósito limpo, tampado, com água descansada, pronta para uso. Será importante por causa das trocas parciais necessárias.
No final das contas, a maior ameaça no aquarismo é a falta de informação sobre a vida aquática, a qualidade da água, os peixes, seus hábitos e sua manutenção adequada.