Quando a conversa entra no tema iluminação em aquários a frase mais ouvida é que devemos manter 1 W de luz por litro de água. Essa é uma das fórmulas mais genéricas que existem no aquarismo e deve ser seguida com muita cautela. Temos de entender primeiro qual o tipo de lâmpada a que essa fórmula refere-se, se é tubular T8 ou T5 HO, se é fluorescente compacta, HQI ou os recentes LEDs.
Além do tipo de lâmpada é necessário identificar o que o aquarista busca com a iluminação, se é um aquário plantado, um aquário com plantas (sim, são diferentes e podemos abordar mais adiante), um aquário somente de peixes ou ainda um reef (aquário marinho com corais). Usualmente para aquários somente de peixes (no inglês, fish only) ou aquários com plantas podemos manter uma iluminação mais simples com lâmpadas do tipo "luz do dia", essas mesmo que usamos para iluminar a cozinha de casa, acrescentando algum tom de azul ou rosa em aquários de água doce para realçar as cores dos peixes.
Para aquários plantados temos que entender as necessidades das plantas, qual espectro da luz é mais eficiente no processo de fotossíntese e desta forma concentrar os esforços e investimentos na lâmpada adequada. Falando de modo geral, sem aprofundar conceitos ou detalhes técnicos, as plantas aproveitam com mais eficiência os espectros vermelhos e amarelos da luz, desta forma podemos ter mais lâmpadas que emitam essa frequência.
Outro ponto a considerar é a atenuação que a água proporciona. O vermelho atenua primeiro, até que reste apenas o azul, por isso em aquários marinhos com corais é necessário investir em espectros azuis, uma vez que, como os corais se encontram no mar, em profundidades maiores que as plantas nos rios e lagos, com o passar de milhões de anos, eles evoluíram para aproveitar melhor essa faixa.
A fauna é outro grande critério para equalizar a iluminação do aquário. Não basta comprar lâmpadas que atendam aos demais pontos da montagem e colocar os peixes que se deseja dentro do aquário. Ocorre que muitas espécies, como as de hábitos noturnos ou as que vivem em tocas, preferem locais sombrios. Também há peixes que vivem em águas escurecidas por ácido húmico ou na sombra de vegetações, preferindo pouca iluminação. É o caso dos Neons, Acarás Bandeira, Acarás Disco entre outros. O melhor seria respeitar os níveis de claridade de cada espécie no aquário, investigando como era a vida delas no meio natural (mesmo que nem existam mais em meio selvagem).
Muitos amigos criadores ficam preocupados que seus peixes estejam acanhados, parados, estressados, agressivos ou agitados, emagrecendo excessivamente ou até morrendo, sendo encontrados mortos fora do tanque, etc. Peixes como Bótias, Labeos e Dojôs podem até sobreviver na claridade, mas precisam de tocas para relaxar. Peixes de hábitos noturnos também não gostam de muita claridade, como por exemplo os Gobis, Synodontis, Cobras Kulli, Ituís e alguns Cascudos, que necessitam de tocas para passar o dia. A verdade é que quase nenhum peixe gosta de luz forte no aquário, como se fosse um Sol ao meio dia. Ainda é recomendado manter uma rotina de acender e apagar as luzes sempre no mesmo horário. Deixar a claridade da manhã entrar no ambiente algum tempo antes do acender das lâmpadas é indicado para que a claridade não seja repentina, mas gradual, ou então ir acendendo as lâmpadas aos poucos e apagá-las da mesma forma ao final do dia.
É preciso atentar para outros fatores que definem a iluminação como a profundidade e o comprimento do aquário, o substrato que se pretende usar e a cor da água, caso dos aquários de águas mais escuras ou cor de chá (no inglês, blackwater). Por exemplo, quem tem aquários com 100 cm ou mais de comprimento não precisa clarear o ambiente totalmente, pode deixar alguma parte com pouca iluminação.
Também não se pode descuidar do perigo das algas, pois uma iluminação mal projetada poderá trazer muita dor de cabeça com esses visitantes indesejados em suas diversas espécies, desde as algas que deixam a água esverdeada até as filamentosas, as marrons, pretas e azuis, como cianofíceas, entre outras.
Sobre a eficiência das lâmpadas, até pouco tempo atrás as HQIs eram imbatíveis para marinhos por sua eficiência em reproduzir infinitas cores. Com seus filamentos de alta incandescência são as que mais se aproximam do espectro solar, visualmente formando imagens de "bilhões de cores", muito próximas às que visualizamos sob a luz do Sol. Porém estão perdendo espaço para os LEDs exatamente pela falta de praticidade e pelo fato de esquentarem muito, além do alto consumo de energia elétrica.
Os LEDs com sua praticidade e durabilidade estão cada vez mais populares. O LED RGB basicamente trabalha com três cores (RGB de "red", "green", "blue"), as demais são obtidas com revestimentos da pastilha do diodo luminescente com os vários tipos de fósforo em diversas combinações o que, visualmente, permitiria destacar na imagem assim formada aos nossos olhos, algo como "256 cores". Nos LEDs brancos, por exemplo, não há a opção de gerar cores (apenas a branca) pois isso depende do tipo de semicondutor utilizado no diodo. A maior vantagem dos LEDs em aquários marinhos é o fato de não esquentarem a água, dispensando em alguns casos até mesmo o Chiller. Nos plantados os LEDs ainda engatinham, e hoje não se tem uma opinião totalmente formada sobre como acertar na iluminação LED para aquários plantados (estamos em 2015 e a tecnologia no aquarismo evolui muito rápido, talvez quando você estiver lendo esse artigo, as coisas já estejam diferentes).
Quando falamos de aquários plantados as tubulares ainda reinam absolutas por terem um espectro mais estendido e não esquentarem a água. Ainda dependentes de "combinações de fósforo", permitem visualmente formar imagens com "milhões de cores" e mais próximas, portanto, do que enxergamos sob o Sol. Com estes milhões de cores, a facilidade de acesso e o preço mais acessível em relação às luminárias de LED, as fluorescente T5 HO (HO de High output) ainda devem ter uma vida longa nos aquários plantados. Fluorescentes compactas (conhecidas também como lâmpadas econômicas, aquelas lâmpadas fluorescentes que rosqueamos nos bocais tradicionais), talvez pelas limitações impostas no PAR e espectros, são mais recomendadas para aquários de baixa manutenção, "low tech" ou somente de peixes, pois acabam sendo um fator limitante para o desenvolvimento de muitas plantas.
Portanto, como podemos ver de forma resumida, a iluminação ideal em um aquário depende de diversos fatores. Os vendedores devem estar preparados para questionar o cliente no sentido de entender qual tipo de aquário é pretendido e assim poder indicar a iluminação mais adequada, de acordo com o desejo de investimento do aquarista e garantido que este tenha uma experiência satisfatória com seu aquário.
Por último e não menos importante, vale ressaltar que após sua utilização, as lâmpadas não devem ser descartadas no lixo comum. Existem pontos de descarte especializados no tratamento dos elementos tóxicos que compõe as lâmpadas e que saberão dar um destino adequado para eles, sem que façam mal ao meio ambiente. Aqui você pode encontrar alguns desses locais.
Siglas:
CFL - Compact Fluorescent Lamp. Lâmpada "econômica" fluorescente comum. Não precisa de reator externo pois o mesmo está embutido na lâmpada e pode ser rosqueada em qualquer bocal, antigamente utilizado para lâmpadas incandescentes.
HQI - Hydrargyrum Quartz Iodide. Tipo de lâmpada com descarga de alta intensidade, de vapor de mercúrio.
LED - Light-Emitting Diode. Diodo emissor de luz.
Lúmen - Unidade de medição de luz (espectro visível) pelo olho humano.
LUX - Unidade de intensidade de luz visível pelo olho humano. Representa a quantidade de lúmens que incidem sobre um metro quadrado.
PAR - Photosynthetically Active Radiation. Radiação Fotosinteticamente Ativa, representa o espectro de luz "visível" por animais ou plantas que realizam o processo de fotossíntese (plantas, corais, algas, etc).
PL - Philips Lighting. Versão antiga dos CFL, onde as lâmpadas precisam de um reator externo. Ainda é muito utilizada no aquarismo.
T5 - Lâmpada Tubular Fluorescente tipo T5, de 15,9mm de diâmetro (5/8 de polegada), mais fina que o modelo T8, mais comum. Existe a versão T5 HO (High Output) muito utilizada no aquarismo, por emitir mais lúmens por m2, em relação ao seu consumo em Watts.
T8 - Lâmpada Tubular Fluorescente tipo T8, de 25,4mm de diâmetro (1 polegada). É a lâmpada mais comum entre as fluorescentes tubulares. Há ainda a T10, que possui o diâmetro um pouco maior (33mm) e que também é facilmente encontrada em supermercados.
Watt - Unidade de potência ativa elétrica, equivalente a 1 VA (volt-ampere). Também conhecida como Vátio.
Colaboração: Julio León e Katsuzo Koike.