Gostaria de fornecer algumas informações úteis sobre a coloração da água dos aquários caseiros, que é um dos itens mais preocupantes dos amigos criadores, desde os iniciantes aos mais experientes. Realmente, não é simples detectar o "bom aspecto" da água, pois este nem sempre condiz com as melhores condições para os habitantes do tanque. Há uma concepção, quase intuitiva, de que água de aquário deve ser "límpida e transparente", ou seja, cristalina ou sem cor. Ora, não é de todo falso que esse padrão de água seja apropriado para a criação de peixes, primeiro porque permite a total visibilidade ao aquário, depois, quase por intuição, logo se pensa na água potável, no aspecto "cristalino" típico de águas saudáveis. Esteticamente, também, fornece uma imagem agradável do aquário. No entanto, uma análise mais crítica e aprofundada da questão logo mostrará que tais crenças podem levar a equívocos, nos quais muita gente já caiu e se deu mal.
Em primeiro lugar, é preciso derrubar o mito de que água mineral (potável) é a melhor para os peixes. Aliás, isso nem é indicado, pois os seres vivos, como peixes, dependem de certos parâmetros da água além da própria "limpeza"; falamos do nível de oxigenação, pH, dureza, KH, nitritos, ausência de substâncias tóxicas como cloro e flúor, ou outras. Por exemplo, água azul de piscina ou a que sai diretamente das torneiras serão terrivelmente maléficas aos peixes. Além disso, a melhor água para os peixes não precisa ser esterilizada, mas deve estar "biologicamente equilibrada", pelo trabalho de bactérias, plânctons e plantas, como é normal na natureza, nos rios, riachos e lagos. As águas minerais vendidas no comércio excluem tais propriedades, não sendo, portanto, as mais indicadas para se colocar imediatamente os peixes, apesar de "cristalinas" e potáveis. Aqui é útil salientar o período de ciclagem do aquário, que é um tempo variável (entre 7 e 20 dias) e necessário para a água atingir os seus parâmetros vitais. Alguns apressados, no intuito de acelerar o processo, inserem substâncias químicas anti-cloro, anti-bactéria ou outras no aquário, e em geral se dão mal, perdendo peixes e até a água toda do tanque. É indicado ter um pouco de paciência mesmo, e esperar a ciclagem, para só então colocar os inquilinos.
Uma das formas naturais de considerar a qualidade da água, em seu "aspecto", como falamos acima, é observar o estado saudável ou não de plantas, o comportamento dos peixes, presença de algas (se perigosas ou benéficas), do substrato, e coloração dos obejtos do aquário (enfeites, pedras e troncos, se está normal ou não). A água reflete tudo isso em sua coloração, na maioria das vezes, muito embora a transparência "cristalina" possa ocultar graves problemas.
Uma água cristalina pode estar contaminada com bactérias ou vírus causadores de doenças nos peixes, impossíveis de observar a olho nú. Assim, águas barrentas, esverdeadas, escurecidas como chá-mate, amareladas, entre outras, podem ser bem mais saudáveis biologicamente do que uma água que esteja simplesmente "transparente". É preciso reforçar que nem todos os peixes vivem na natureza em águas cristalinas. Por exemplo, os Neons (Paracheirodon axelrodi), muitos Tetras, a maioria dos peixes de fundo e alguns ciclídeos, como o Acará Bandeira (Pterophyllum scalare) e Acará Disco (Symphysodon aequifasciata), vivem em águas de elevado teor húmico, ou seja, matéria vegetal de folhas, galhos, raízes, que deixam a água da cor de chá preto e de baixo pH. Nos rios da Ásia, muitos peixes vivem normalmente em águas barrentas, como o Barbo Prateado (Barbonymus schwanenfeldii), a Carpa (Cyprinus carpio) e o Pangássius (Pangasianodon hypophthalmus). Isso não quer dizer que tais espécies evitem águas cristalinas, mas seu principal critério ambiental é a alta quantidade de matéria vegetal, para sua alimentação, o que em geral, não é encontrado em águas transparentes. Já um aquário amazônico deve ter matérias húmicas, para preservar a ambientação natural dos peixes daquela região. As águas esverdeadas, com grande quantidade de algas em suspensão também podem ser saudáveis, e na maior parte das vezes o são, apesar de assustar muitos criadores desavisados, que a consideram maléfica. Claro, a água verde deve ser controlada quanto às substâncias em suspensão e deve ter movimentação, para não decair em seu nível de oxigênio. O aspecto geral do tanque, claro, ficará prejudicado, pois água verde é opaca, quando em excesso. O principal motivo para a cor esverdeada da água e a conseqüente explosão de algas, é a elevada incidência de luz (solar ou artificial) sobre o tanque, a má filtragem, muito peixe para o volume de água, e excesso de sobras de alimento. Tratando cada um desses fatores, a água volta ao normal rapidamente.
Já vi aquaristas desesperados porque seu tanque ficou amarelado devido a um tronco novo que colocou na água. Ora, basta ler sobre os aquários “Blackwaters” para saber que não há motivo para tanto alarde. E o que dizer da água da chuva, que também é cristalina? Seria boa para colocar nos aquários? Bem, essa água, a princípio não causa mal aos peixes, porém devem ser observados alguns fatores para seu uso adequado: primeiro, procurar saber se o local de sua coleta é muito poluído, pois a chuva precipita substâncias poluentes tóxicas ruins para os peixes, como enxofre, chumbo, fuligem, ácidos, etc. Outra coisa, a água da chuva deve ser misturada a outra água já curtida do aquário, e não encher todo o tanque, pois assim, estaríamos protegendo os peixes de perigos indesejados. Água de chuva é indicada para quem busca reprodução de algumas espécies que em geral desovam na época das chuvas, como Neons e outros tetras, coridoras, entre outras.
No caso da água de fontes, sendo uma boa água, também deve passar por um período de curtimento no aquário antes de serem colocados peixes, apenas para atingirem os parâmetros adequados, da mesma forma indicado para água de cisterna (cuidado com o cloro) e de poços. A cor mais “perigosa”, a princípio, para uma água de aquário, é a leitosa ou esbranquiçada. O aquarista deve estar atento a tal coloração, que pode demonstrar alguns fatores mais graves (e outros menos): degradação da água, por decomposição de matéria orgânica, como peixes mortos, excesso de alimento, troncos verdes com fungos, explosão de algas que turvam a água, plantas apodrecendo, etc. Tudo isso leva a uma queda acentuada do nível de oxigênio, e à elevação dos índices de nitritos e amônia, e em todos os casos, é fatal para os peixes. Outro detalhe é que água leitosa exala mau cheiro, de algo podre. Em tanques novos, em processo de ciclagem, é normal o turvamento da água, porque as bactérias benéficas ainda estão se ambientando em seu trabalho biológico. Fica embaçado porque há muitas bactérias mortas. Ainda em tanques recém montados, com substrato mal lavado, é comum que o excesso de poeira cause o turvamento da água, mas em poucos dias isso desaparece, pelo trabalho do filtro e da gravidade, que baixa as partículas suspensas. Assim, não é nada indicado colocar ou deixar peixes nas águas turvas esbranquiçadas. Por fim, uma água de qualidade no aquário depende de boa filtragem (vazão entre 4 a 9 vezes o volume do tanque), boa circulação, mas também deve ter harmonia na quantidade de plantas e peixes, trocas parciais e periódicas, sifonagens semanais do fundo, ter a observação atenta e diária do criador, e muito bom senso, por exemplo, na hora de colocar comida, para não exagerar e estragar a água. Para concluir, deixo o conselho de sempre atentarmos para a cor da água de nossos aquários, se quisermos manter nossos peixes e plantas por muito tempo, de forma saudável.