Com a chegada do verão, chega também um problema recorrente: a temporada de maior intensidade reprodutiva dos mosquitos. E isso pode representar um fato positivo para os aquaristas: a oportunidade de obter larvas fresquinhas, um excelente alimento vivo para seus peixes.
Essas larvas são um ótimo alimento alternativo, podendo ser, inclusive, oferecidas diariamente. Riquíssimas em proteínas, também possuem sais minerais e outras substâncias importantes para o metabolismo dos peixes. Geralmente são encontrados liofilizados (desidratados), os BloodWorms (forma larval dos algumas espécies de mosquitos da Família Chironomidae), em embalagens práticas, nas lojas especializadas em produtos para aquarismo. Apesar de ser uma opção consideravelmente mais fácil, o fato das larvas estarem vivas é um fator muito mais atrativo aos animais, quem já ofereceu larvas vivas aos peixes sabe o frenesi que ocorre. Tanto pela cor como pelo movimento, chamam a atenção até dos peixes mais tímidos, além de reanimar e ajudar na recuperação daqueles que passam por algum tratamento estressante.
Todavia, o risco de doenças sempre se encontra presente. Especialmente quando falamos em mosquitos, automaticamente associamos esse inseto (especialmente do gênero Aedes, o A. aegypti) ao verão e também às doenças por ele transmitidas, como Dengue e Febre Amarela, tanto é que esse inseto vetor de tais enfermidades estimula todos os anos inúmeras campanhas por todo o país, que instruem a população em geral a como prevenir sua reprodução e consequente propagação, evitando água parada, por exemplo.
Alguns aquaristas, mais por desinformação do que qualquer outra coisa, ao tentar conseguir larvas de mosquito acabam agindo de forma irresponsável, deixam recipientes com água limpa espalhados pelo quintal, na esperança que mosquitos lá depositem seus ovos. A irresponsabilidade consiste no fato de que a maioria se esquece deles, permitindo que o inseto passe por todas as etapas de seu desenvolvimento, atingindo a fase adulta e portanto representando risco para a população humana. Mesmo que o aquarista mantenha-se vigilante, não possui controle sobre o tempo de cada fase, então em uma manhã as larvas já são crisálidas por exemplo, na mesma tarde podem já ter se transformado em mosquitos adultos. Essa instabilidade é que representa o perigo, não se consegue ter controle. Salientando e repetindo, essa prática não deve ocorrer em hipótese alguma, jamais deixe recipientes com água espalhados pelo pátio, isso é correr risco e colocar sua família e sua comunidade em perigo!
Mas então, se isso é perigoso, como obter larvas de mosquitos vivas de forma segura? É fácil, basta usar uma armadilha para mosquitos ou "mosquitoeira", uma engenhoca especial que de forma fácil e prática conseguirá muitas larvas para nossos peixes. Não é novidade, já existe e se aplica muito bem na nossa situação como aquaristas.
Essa armadilha é uma maneira muito eficiente e segura de combater os mosquitos de uma forma geral, é fácil de montar e pode ser feita por qualquer pessoa. Além de ser composta por materiais recicláveis, que inicialmente seriam descartados como lixo doméstico, não utiliza produtos químicos tóxicos, que poderiam representar um perigo para a natureza, características que a torna ecologicamente correta.
Como fazer?
É realmente simples e fácil, exigindo materiais que praticamente sempre temos à nossa disposição: basicamente precisamos de uma garrafa PET comum (pode ser de qualquer tamanho a partir de dois litros), um pedaço de tule (tecido com o metro vendido por R$1,00 ou R$2,00), alguma fita adesiva (tradicional, isolante ou crepe - mas dê preferência as que resistem à umidade, por exemplo) e alguns grãos.
Primeiramente deve-se cortar o topo da garrafa, aproximadamente um pouco abaixo da metade, formando uma "círculo ou anel". Dependendo do formato da garrafa, pode acontecer de parecer difícil ou que não dará certo, mas com jeito acaba-se por cortar corretamente, nem que sejam desperdiçadas algumas outras até lá.
Focando na parte cortada de cima, retira-se a tampa e também a argola que lacra tampa, sem rompê-la. Isso é necessário pois a usaremos mais tarde. Use um objeto pontiagudo para ajudar a retirá-la. Algumas fontes recomendam que se lixe bem a parte interna desse lado da garrafa, deixando-a bem áspera afim de que aumente a área de evaporação da água, facilitando que o mosquito encontre a armadilha. Se for fazer, essa é a hora (use uma lixa virgem).
O passo seguinte é posicionar o pedaço de tule em cima da "boca" da garrafa, e recolocar a argola, prendendo-o. Se não quiser fazer dessa forma, não retire a argola e use um simples elástico amarelo (atílios), que o resultado será o mesmo. O tule serve para que a larva passe enquanto é pequenina, mas não consiga mais sair após crescer.
Para um melhor acabamento e também praticidade (para que as larvas não fiquem presas no excesso de tecido) cortamos as rebarbas de tule.
As rebarbas do tule devem ser retiradas.
Agora basta vedar com alguma fita que resiste à umidade. Pode ser da mais comum, que temos em casa mesmo. A mais resistente é a fita isolante, que dura mais tempo sem se soltar. O importante mesmo que tenha uma boa vedação, não permitindo que nada saia ou entre pelas laterais da armadilha.
E a armadilha está pronta! Basta agora escolher o melhor local, que será aquele que seja sombreado, pois a maioria dos mosquitos domésticos possuem certa aversão à luz (especialmente o Mosquito da Dengue). É importante que seja fresco e ventilado, lugares abafados costumam ser descartados pela fêmea. Prefira locais como pátios e varandas, fora de casa e não muito movimentados.
Uma larva muito comum é uma cor de sangue, vermelho bem vivo, grande e robusta, conhecida e comercializada como BloodWorm (citado no começo desse artigo), variedade bem recorrente. Ela atrai muito a tenção dos peixes, que ficam muito agitados e a devoram rapidamente.
Para lavar é simples, basta ir colocando água e retirando os detritos, ou mesmo "coá-los" em água corrente, com um jato fraco para não matá-los, até porque o interessante é oferecê-los vivos aos peixes. Dependendo do caso, basta retirá-los jogar aos peixes, pois a água em que estão já é desclorada. Se encontrar pupas, ofereça imediatamente, impedindo que consigam evoluir para mosquitos adultos.
A armadilha funciona de forma tão simples e precisa quanto é feita, o mosquito fêmea detecta a umidade e se aproxima, percebe através de receptores a presença de alimento e deposita então seus ovos na beira da água. Após alguns dias os ovos eclodem e as larvas, ainda muito pequeninas, passam tranquilamente pelo tule, indo para o interior da armadilha. Após ganharem tamanho, já não conseguem voltar devido ao tamanho do tecido, sendo obrigados a permanecer na armadilha. Mesmo que passem pela metamorfose, do casulo ao mosquito adulto, o inseto não tem para onde ir, ficando preso (por isso é importante vedar bem com fita adesiva).
No caso de aquaristas, fica fácil conseguir larvas, basta verificar semanalmente a presença ou não de larvas, e quando detectar, basta acompanhar seu crescimento até o tamanho desejado (pode mudar dependendo do tamanho do peixe) e então abrir a armadilha, coletar as larvas, enxaguar se necessário e oferecer aos peixes. Novamente monta-se a armadilha normalmente, podendo ser reutilizada inúmeras vezes.
No final das contas essa armadilha representa um benefício para a sociedade, além da útil fonte de alimento aos peixes ornamentais. Servir de alimento já é algo interessante, mas também combate os mosquitos de uma maneira geral e muito segura, pois mesmo que você esqueça que fez tal armadilha, os eventuais mosquitos aprisionados morrerão de qualquer maneira. Então se esquecer, tais animais também são eliminados, sendo útil para a comunidade, uma verdadeira ferramente da defesa contra esses insetos transmissores de doenças.
Com a intenção de alimentar os peixes ou de eliminar focos de mosquitos e doenças, essa armadilha é eficiente, simples, segura e recomendada por e para todos. Aquaristas ou não, vale à pena montar pelo menos uma. Seus peixes agradecerão e sua comunidade também.