Vencer desafios, talvez esse seja o principal motivo que move os homens. Basta ouvirmos que algo é impossível e já começamos a pensar nos motivos que geram essa impossibilidade, como contorná-los e como vencê-los. Assim nasceu esse aquário, 430 litros do desafio de se manter Discos Selvagens (Symphysodon aequifasciata) em um ambiente que fosse adequado tanto à eles, como às plantas naturais, não só de forma funcional, mas também harmoniosa. Já que comecei esse texto falando sobre desafios, é válido comentar que escrever sobre o aquário desse mês foi mais um deles, falar de um projeto de minha própria autoria foi bem difícil, descobri que é muito mais fácil falar de projetos de outros aquaristas.
Após mudar de Campinas-SP para a capital paulista, fiquei um ano sem aquários, coisa que nunca tinha acontecido desde o meu primeiro contato com esse maravilhoso mundo aos sete anos de idade. Estava ávido por montar um aquário mas foi necessário um ano para que eu me estabilizasse financeiramente da mudança. Foi então que conversando com meus amigos da empresa Aquabase, comentei sobre meu projeto de montar um Aquário de Plantas com Discos Selvagens. Logo encontramos uma medida adequada para o espaço que tinha em casa e os valores que estava disposto a investir. Esse aquário foi montado com o que eu considerava de melhor na época, em termos de equipamentos de aquarismo disponíveis no Brasil, e isso é algo que até hoje não me arrependo. Tive pouquíssimos problemas com os equipamentos que escolhi e acredito que isso tenha sido fundamental para atingir meus objetivos.
A escolha das medidas desse aquário foi o primeiro desafio a ser vencido. Normalmente utilizamos alturas entre 40 e 50cm para aquários com plantas naturais e comprimento em torno 120cm, porém como poderia ser agradável olhar para um aquário onde os peixes podem chegar a metade dessa medida em seu comprimento vertical? Então a medida escolhida foi 60cm de altura, o que criou um maior dificuldade com as plantas, principalmente se quisesse manter as mais baixas. Isso descartaria o uso de lâmpadas fluorescentes tubulares comuns (T8 e T10), e as lâmpadas HQI passariam a ser as mais indicadas, não fosse mais uma vez minha preocupação com os Discos. Achei que seria muita luz, mesmo criando zonas de sombra, os peixes talvez não se sentissem confortáveis. Foi então que as lâmpadas T5 HO caíram como uma luva, o seu uso estava começando a se popularizar nos aquários brasileiros e era exatamente o que eu precisava, maior capacidade de penetração na água, sem proporcionar uma iluminação tão intensa.
A busca por um leiaute ideal foi o segundo desafio, as primeiras composições poderiam ser consideradas mais atraentes em termos de aquários plantados, porém sempre sentia que algo não estava em harmonia com os Discos. Perdi as contas de quantas vezes os troncos foram rearranjados e quantas espécies de plantas foram experimentadas.
Outros desafios também precisaram ser vencidos, houve uma vez que pensei em desistir e montar um plantado como tantos outros. Era uma sexta-feira e cometi o erro de colocar vermífugo no aquário, sendo que havia umas vinte Ampulárias (Pomacea diffusa) junto com os Discos. Fiz isso rapidamente e viajei, voltando somente no domingo, quando pretendia fazer uma boa troca parcial de água. Ao chegar em casa, o aquário tinha um cheiro péssimo, metade dos Discos estavam mortos e metade agonizando, com um aspecto péssimo e que acabaram morrendo algumas horas depois. Minha conclusão foi que o vermífugo matou as Ampulárias, que poluiram a água e causaram a morte dos Discos. Como Murphy é muito oportunista, os Discos que eu tinha nesse aquário eram justamente os selvagens mais bonitos e coloridos que eu já tive até hoje, alguns foram comprados e outros foram presente do Sr. Antônio, um dos maiores apreciadores de Discos Selvagens que já conheci e proprietário da loja Aquário do Brasil, única especializada em Discos Selvagens no Brasil. O Sr. Antônio selecionou-os em sua própria "coleção" particular, onde mantinha os peixes mais bonitos que chegavam em sua loja, não os colocando à venda como os demais.
O aquário também sofreu bastante com grandes populações de algas, principalmente nos primeiros meses e isso serviu para eu entender que algas devem fazer parte do aquário, quando sua presença incomoda é porque algo está errado, são como um alerta. Por outro lado, buscar um aquário totalmente livre de algas é algo que, para mim, soa quase como artificial.
A população do aquário sempre privilegiou os Discos Selvagens, houveram alguns pequenos Ciclídeos Anões, Tetras , Coridoras e alguns Loricarídeos, mas sempre observando se não causariam nenhum problema com os Discos. Atualmente ela é formada por 7 Discos selvagens entre 5 e 13cm, alguns pequenos caracídeos, entre eles, Pristellas maxillaris (muitos nascidos no próprio aquário) e Hyphessobrycon pulchripinnis, além de algumas Corydoras melini e vários Parotocinclus sp. e Otocinclus sp. que estão no aquário desde a sua montagem.
Volume bruto: 432 litros
Tempo de funcionamento: 4 anos
Filtragem: 2 x Eheim Ecco 2234
Iluminação: 4 x 39W JBL T5 HO
Substrato: Tropica Plant Substrate + laterita + cascalho de basalto
pH: 6,6
GH: <1
KH: <1
NH3/NH4: 0
NO2: ?
NO3: ?
Temperatura média: 28C a 30C.
Alimentação: Poytara Disco, Alcon Bloodworms e Alcon Tubifex F.D.
Fertilização adicional: 10 ml de Seachem Flourish, 10ml de Seachem Flourish Iron, 45ml de Seachem Flourish Excel semanalmente
Injeção de CO2: Aquamazon AS-3000 com solenóide ligada ao temporizador da iluminação.
Fauna: Symphysodon aequifasciata, Pristellas maxillaris, Hyphessobrycon pulchripinnis, Corydoras melini, Parotocinclus sp., Otocinclus sp., Pomacea filligera e Melanoides sp.
Flora: Echinodorus sp, Echinodorus tenellus "Amano", Cryptocoryne wendtii, Cryptocoryne x willisii, Cyperus helferi, Microsorium pteropus, Bolbitis heudelotii, Anubias barteri "nana" e Cladophora sp.