A filtragem é um dos fatores mais importantes para o sucesso dos aquários, é através dela que sua água ficará cristalina, inodora e salubre para peixes e plantas. O devido entendimento por parte do aquarista, a escolha dos equipamentos mais adequados e o correto dimensionamento da filtragem são a base para um aquarismo prazeroso e recompensante pois é através dela que reproduzimos muitos processos biológicos, quimícos e físicos que a natureza desempenha com infinita elegância e êxito.
No aquário, basicamente temos três tipos de filtragem:
1 - Mecânica ou Física. Através dela retêm-se as partículas maiores (restos de ração, matéria vegetal em decomposição, excrementos) que fazem seu aquário parecer "sujo". As mídias mecânicas mais usadas são perlon e esponjas.
2 - Química. Tem o objetivo de eliminar substâncias nocivas presentes na água que não podem ser eliminadas na filtragem mecânica, pois suas moléculas são muito pequenas. Basicamente é feita por mídias como o carbono ativado (popularmente chamado de carvão ativado) e resinas sintéticas como Seachem Purigen, Mbreda MPure entre outros. Estes produtos possuem capacidade de adsorção física, ou seja, atração e retenção das moléculas através de microporos, retendo substâncias que causam cor e odor na água além de gases existentes.
Algumas observações sobre a filtragem química:
- Havendo necessidade de utilizar medicamento/suplemento vitamínico no aquário, retire as mídias para filtragem química. Elas adsorvem estas substâncias tornando o tratamento inócuo.
- No que se refere a aquários plantados, vários aquaristas abrem mão da filtragem química sob a alegação que adsorverão os fertilizantes destinados as plantas. Abaixo, segue uma relação da pacidade de adsorção do carvão ativado frente à vários elementos.
- Há resinas para adsorver elementos específicos como amônia, fosfato, silicato. Aconselha-se o uso em situações pontuais e necessárias, nunca de forma continuada.
- Em aquários estabilizados e/ou com boa densidade de plantas a filtragem química torna-se uma opção do aquarista, não uma necessidade.
Adsorção do carvão ativado:
Excelente - Antimônio, Arsênio, Cloro, Cromo, Cloramina, alvejantes, água oxigenada, inseticidas e pesticidas.
Boa - Mercúrio, Cobalto, Zircônio, Ácido sulfuroso, Ácido acético, Ozônio, Permaganato de potássio, detergentes, sabão, vinagre e solventes.
Ruim - Ferro (Fe3+), Níquel, Titânio, Nitritos e Cobre complexado
Péssima - Cobre, Ferro (Fe2+) Bário, Cádmio, Zinco, Manganês, Molibdênio, Selênio, Tungstênio, Amônia, Alcalinidade, Nitratos e CO2.
3 - Biológica. Seguramente a mais importante de todas, esta filtragem é feita por bactérias que, utilizando o oxigênio, realizam processos de decomposição da matéria orgânica (restos de alimentos, folhas mortas, excrementos, etc) e que por degradação biológica subsequente são transformados em amônia, nitrito e finalmente em nitrato.
Por costume e para facilitar a vida, chamamos qualquer mídia biológica de cerâmica. E o que é esta “cerâmica”? É simplesmente o material onde se fixará a maioria das colônias de bactérias existentes no aquário e que pode ser plástico (caso das bioballs), cerâmica (argila cozida a alta temperatura), vidro sinterizado, entre outros.
É importante compreender que alguns materiais oferecem mais espaço para abrigar as colônias de bactérias do que outros em função de sua porosidade, tornando-os assim mais eficazes. É o caso dos anéis/grãos de vidro sinterizado, que - devido a sua alta porosidade - possuem uma superfície de colonização muito superior aos bioballs.
Com relação aos tipos de filtro, existem no mercado diversos equipamentos que variam muito tanto em relação ao preço quanto à eficiência. Segue abaixo um resumo dos tipos mais usuais de filtros utilizados no aquarismo:
Filtro Biológico de Fundo (FBF)
Ainda utilizado pelos aquaristas brasileiros, torna-se atrativo tanto pelo baixo custo quanto pela desinformação de aquaristas iniciantes e vendedores. Consiste em placas plásticas perfuradas que ficam sob o cascalho e das quais saem torres onde será colocada uma bomba submersa ou pedra porosa. A filtragem (basicamente biológica) é feita pelo substrato já que é nele que se fixarão as bactérias. O filtro forçará a passagem da água pelo substrato fornecendo assim o oxigênio e a matéria orgânica para que as colônias realizem os processos biológicos.
Se você for a uma loja de aquarismo dizendo que pretende montar seu primeiro aquário, há a possibilidade de lhe venderem o FBF como sistema de filtragem. Mas saiba que esta não é, de fato, a melhor escolha, pois muitas vezes "o barato sai caro". A matéria orgânica ficará acumulada embaixo das placas, com o tempo os níveis de toxinas ficarão fora de controle e começará uma misteriosa mortandade de peixes, obrigando o aquarista a fazer uma limpeza total do aquário, ou seja, o aquário nunca estabilizará. As plantas também sofrem com o uso deste filtro pois ele prejudica suas raízes, principalmente daquelas que possuem raízes robustas ou muito ramificadas. Echinodorus (exemplo) dificilmente irá bem em aquários com o FBF.
Filtro Biológico Modular (FBM)
É um filtro interno acoplado a uma bomba submersa e que consiste em uma caixa compartimentada onde se colocam as mídias filtrantes. É simples, eficiente, com um custo reduzido, mas apresenta duas desvantagens. A primeira é ocupar um espaço que poderia ser destinado a natação dos peixes, plantio, etc. A segunda é a necessidade de retira-lo do aquário a cada manutenção.
Filtro Canister
São uma das mais sofisticadas opções do mercado. Muito eficientes, seu maior problema é o preço mais alto se comparados à outros filtros (hang ons, por exemplo). Realiza filtragem mecânica, biológica e química e é dividido por dois a cinco compartimentos, conforme o modelo ou fabricante.
O primeiro compartimento possui uma espuma onde ficam retidas as partículas maiores realizando a filtragem mecânica; no segundo são alocadas as mídias biológicas para a filtragem biológica; nos demais compartimentos – quando houver - você poderá escolher que material gostaria de usar para complementar sua filtragem. Conforme o número de compartimentos, costuma-se acondicionar mais mídias biológicas além de carvão ativado, turfa, reguladores de pH, removedores de amônia, nitrato, fosfato, etc, conforme a necessidade do aquário.
Um fator positivo deste filtro é que você tem liberdade para criar seu próprio sistema de filtragem dentro de sua estrutura. O filtro é externo ao aquário e as únicas coisas que permanecem dentro dele são as mangueiras para entrada e saída de água. Há também no mercado os chamados mini canister, um modelo compacto próprio para aquários de menor porte, com vazão média de 360 litros/hora. Para quem aprecia um Faça Você Mesmo, há vários tutoriais disponíveis para confeccionar um canister artesanalmente.
Filtro Externo (Hang-On)
Conhecidos como hang on ou filtro de pendurar, ficam acoplados a um vidro do aquário, normalmente o vidro traseiro. Compactos, de várias marcas, modelos e vazões, possuem uma ótima relação custo/benefício para aquários de pequeno e médio porte.
Costumam vir acompanhados de espuma e um refil responsável pela filtragem física e química, que deve ser substituído após cerca de quatro semanas de uso. Vários aquaristas descartam estes materiais substituindo-os por perlon, mídias biológicas de tamanho mini (próprias para estes filtros) e carvão ativado ou similar. A intenção é aumentar a eficácia da filtragem, principalmente da biológica.
Uma recomendação usual é que possua uma vazão entre cinco e dez vezes o volume de seu aquário por hora (litros/hora), garantindo assim uma filtragem satisfatória. Seu único inconveniente é o tamanho reduzido do corpo do filtro o que restringe significativamente o volume de mídias, principalmente as biológicas.
Filtro de Areia Fluidizada
São ótimos filtros para filtragem biológica. Eles são formados por um compartimento com uma areia especial à base de partículas de sílica com colônias de bactérias que favorecem o equilíbrio biológico e por uma bomba submersa comum com um pré-filtro para evitar que partículas em suspensão se acumulem dentro dele. A bomba promove a circulação da água, que passa pela areia e depois retorna ao aquário. São mais usados em aquários com volume acima de 200 litros e ainda são eficazes em casos de filtragem biológica deficiente. Indicados para quem não tem espaço para mídias biológicas em sumps ou canisters.
Filtros Wet-dry
O filtro wet-dry consiste em um aquário que possui 20% de área inundada referente ao volume do aquário principal e nele ficam alocadas todas as mídias filtrantes. A água do aquário principal é captada por uma bomba e passa inicialmente pelo perlon, realizando a filtragem física. Entre as camadas de perlon pode-se colocar carvão ativado para a promoção da filtragem química.
Depois disto, a água passa pelas mídias escolhidas para filtragem biológica, que podem ser bioballs ou cerâmicas. Este material não deve ficar submerso mas apenas úmido, com a água escorrendo constantemente por ele, proporcionando às colônias de bactérias bastante oxigênio para seu desenvolvimento. Depois disto, a água retorna ao aquário.
Em termos de oxigenação e filtragem biológica o filtro wet-dry é um sistema muito bom. Quando usado em aquários plantados exige algumas adaptações para evitar a perda de CO2. Um exemplo é injetar o gás carbônico na saída do filtro. Indicado também para aquário de ciclídeos, kinguios e grandes ciclídeos como Orcars e Zebras.
São poucos os filtros encontrados em lojas que realizam este tipo de filtragem, mas alguns externos (como Peguin e Millenium) possuem sua filtragem baseada no sistema wet-dry.
Sump
Bastante usados em aquários de grande porte, consiste em uma caixa de vidro (um outro aquário) com divisões para captação da água, colocação de mídias e bomba submersa para devolução da água tratada. O sump também pode abrigar equipamentos como aquecedor, filtro UV, skimmer (no caso de aquários marinhos), deixando o display limpo.
Suas maiores vantagens são a fácil manutenção, grande espaço para abrigar mídias (principalmente biológicas) e ganho no volume de água (volume do aquário + volume do sump), proporcionando uma filtragem excelente. São feitos sob medida e a recomendação habitual é que tenham um volume de no mínimo 20% do volume do aquário a que se destinam. Outro modelo de sump é o chamado interno ou sexto vidro e seu diferencial é pertencer ao corpo do aquário, ficando em uma lateral ou vidro traseiro dele.
Filtro de Espuma e Powerhead
O filtro de espuma ou de esponja é extremamente simples. Consiste em uma bomba submersa ou pedra porosa onde fica acoplada uma estrutura em plástico e espuma. A bomba forçará a passagem da água pela espuma retendo nela as partículas maiores de detritos. Muito indicado para aquários de camarões e alevinos, além de aquários de uso temporário como hospital e quarentena.
O filtro conhecido como powerhead tem basicamente o mesmo funcionamento, apenas a espuma aparente é substituída por um corpo plástico que a conterá. Pode vir acompanhado de uma flauta para saída da água. Conforme o espaço disponível no corpo do filtro, alguns aquaristas optam em eliminar a esponja original e preenche-lo com mídias habitualmente usadas nos demais filtros (perlon, cerâmicas e carvão ativado). São adequados para aquários de volume menor que abriguem poucos peixes e de pequeno porte.
Em ambos, a espuma fará tanto o papel de mídia física como de mídia biológica, abrigando as colônias de bactérias. Considerando isto, sempre lave a espuma em água retirada do próprio aquário, evitando perda destas colônias.
Filtro UV
É um equipamento de uso cada vez mais difundido, e mesmo não sendo de fato um filtro – já que não realiza filtragem física, química ou biológica – merece um destaque como complementar aos filtros em si.
Sua finalidade é esterilizar a água que passa por ele, eliminando dela qualquer organismo vivo (microalgas, esporos, bactérias, vírus) pela destruição do DNA. Seu funcionamento é bastante simples: uma bomba submersa de baixa vazão empurra a água para uma câmara hermética que contem uma lâmpada ultra violeta sendo, na sequência, devolvida ao aquário. Alguns filtros – canisters, por exemplo – já vêm com filtro UV acoplado.
É bastante útil em situações pontuais, como em surtos de água verde (excesso de microalgas em suspensão). Os benefícios de seu uso contínuo ou por períodos prolongados ainda é muito discutido por aquaristas. Sua desvantagem é que termina por esterilizar demais a água, prejudicando a microbiologia do aquário. Ao menos, ele não consegue acabar com as colônias de bactérias benéficas do aquário.
Algumas observações:
- Há vários outros filtros não mencionados aqui como o filtro esponja, help filter, deionizador, osmose reversa, de plantas.
- Pesquise antes de adquirir um filtro, pergunte aos que já o tem se estão satisfeitos com o equipamento, se observaram problemas e quais. Não é raro ouvir reclamações como vazamentos, ruído em excesso, perda exagerada de vazão e mesmo dificuldade para encontrar peças de reposição.
- O melhor filtro disponível no mercado não lhe dará o retorno esperado se as mídias (principalmente as biológicas) forem de baixa eficiência. Invista em produtos de qualidade.
- Excluindo eventuais problemas técnicos inerentes à confeção do filtro, pense que não há “filtro ruim”, apenas inadequado/subdimensionado ao aquário. O resultado de uma escolha má planejada será basicamente uma filtragem aquém da necessária.
- Considere dois itens na escolha do filtro: volume do aquário e fauna. Uma coisa é um aquário de 200 litros com poucos peixes e de pequeno porte; outra bem diferente é este mesmo aquário com quatro kinguios. A segunda situação exigirá uma filtragem mais robusta do que a primeira.
- Filtros necessitam de manutenção periódica, com troca das mídias físicas e químicas, bem como a limpeza das mídias biológicas (em água do próprio aquário) e limpeza do corpo do filtro/mangueiras/sugador quando necessário.
- Filtros não dispensam trocas parciais de água nem sifonagens periódicas do substrato.
Esse texto é um trabalho conjunto de Solange Nalenvajko, Katsuzo Koike, Marne Campos e Julio León sobre o texto original "Filtragem e Filtros" escrito e publicado no Portal AqOL por Marne Campos em 2003. O resultado é um versão revisada e atualizada para o ano de 2015.
Escrito por: Solange Nalenvajko, Katsuzo Koike, Marne Campos e Julio León