Já ouviu falar em Carp aggedon? Não? Talvez sua possível tradução em nosso bom e velho português, Carpocalipse? Ainda não? Então vamos aos fatos.
Na Austrália encontra-se em andamento um programa de erradicação da carpa europeia da bacia de Murray Darling (sudoeste do país) via liberação no rio Murray de um vírus específico do herpes que ataca as carpas, visando eliminar 90% desta população.
A carpa europeia foi introduzida no país em 1859 e, de variedade criada em cativeiro, acabou disseminada extensivamente no meio ambiente na década de 1970 em função de inundações que arrastaram e espalharam estes peixes de seus viveiros para todo o sistema da bacia de Murray Darling. Resistentes e com alta taxa de reprodução, a população aumentou exponencialmente, representando hoje 80% da biomassa de peixes deste ecossistema. Além de competirem por alimentos com os peixes nativos, as carpas também alteram o ambiente original erodindo leitos de rios, provocando a turvação da água, danificando a vegetação marginal da qual peixes nativos dependem para abrigo e alimentação e inclusive prejudicando a navegabilidade em rios e pântanos.
Visto a gravidade da situação, a solução proposta surge na forma de um vírus da estirpe ciprinídeo herpesvírus 3, desenvolvido em Israel em 1998 exatamente para controle de carpas. Com uma taxa de mortalidade de 85~90%, o vírus se multiplica no peixe por cerca de sete dias. O vírus ataca os rins, pele, guelras, ocasionando dificuldade para respirar. Após este período surgem os primeiros sintomas e, vinte e quatro horas depois, a morte.
Em sete anos de pesquisas e testes efetuados pelo CSIRO (uma entidade de pesquisas australiana) avaliou-se que o vírus não afeta outros peixes (pelo menos nenhuma das treze espécies nativas testadas) assim como mamíferos e répteis, sendo citados galinhas, ratos, enguias, sapos, tartarugas e dragões d’água. Chrystopher Pyne, ministro da Ciência, assegura também que o vírus não impacta humanos e que poderá ser lançado até o final de 2018.
O governo federal da Austrália estima o custo do projeto em 15 milhões de dólares, sendo a maioria dos recursos utilizados para limpeza do ecossistema (eliminação dos animais mortos). Richard Kingsford, da Universidade de New South Wales cita achar válida esta abordagem de controle biológico, mas é necessário ficar atento pois há sempre riscos.
De qualquer forma, seja por incompetência, irresponsabilidade, imprevisibilidade, acaso, fica aqui mais um exemplo do perigo e dos problemas da inserção de animais exóticos em um ecossistema que não o seu. Quase sempre a solução é o extermínio em massa da espécie em questão. Agora já conhece o significado de Carp aggedon.